A Capital Federal

Por Leivison Silva

A Capital Federal é uma peça em três atos, subdividida em doze quadros. Essa “comédia-opereta de costumes brasileiros” foi escrita em 1897, pelo dramaturgo, poeta e jornalista maranhense Artur Azevedo (1855-1908). Membro fundador da Academia Brasileira de Letras, Artur Azevedo é o responsável por sedimentar, com suas comédias de costumes, o caminho aberto por Martins Pena (1815-1848), na primeira metade do século XIX, visando à instituição de um teatro tipicamente brasileiro. A Capital Federal chegou a ganhar uma versão cinematográfica, em 1923, dirigida por Luiz de Barros (1893-1982), pioneiro do cinema nacional.

Eusébio, um fazendeiro do interior de Minas Gerais, vai ao Rio de Janeiro com sua família, em busca de Gouveia, que havia prometido se casar com Quinota, filha de Eusébio, quando esteve em São João do Sabará, passando-se por caixeiro viajante. No entanto, Gouveia fugiu para a capital federal sem cumprir a promessa. No Rio de Janeiro, Gouveia se tornou um jogador compulsivo.

A princípio, a família de Eusébio se hospeda no Grande Hotel da Capital Federal, depois se muda para uma casa. Os jecas ficam impressionados com o caos da cidade grande, suas tentações sexuais e com a supervalorização dada pela sociedade carioca à cultura francesa.

Eusébio acaba caindo nas garras de Lola, uma cortesã espanhola que mantinha um caso, por interesse, com Gouveia. Benvinda, a empregada da família de Eusébio, envolve-se com Figueiredo, um aposentado que tinha uma queda por mulatas e que acaba por transformar Benvinda numa famosa cocote.

A peça encerra-se com uma apoteose à vida rural. A família de Eusébio, incluindo Benvinda e Gouveia, desiludida com a vida na cidade grande, retorna para sua fazenda, em Minas Gerais. Em sua última fala, Eusébio expressa sua convicção de que a prosperidade e o progresso daquele Brasil da República Velha vinham, de fato, da lavoura, e não da vida frívola da cidade.

A Capital Federal é um retrato bem humorado da sociedade carioca do fin de siècle. Com graça e maestria, Artur Azevedo explora o contraste entre a vida rural e a vida urbana, através de personagens que representam tipos humanos facilmente encontrados na então capital federal do Brasil, o Rio de Janeiro, naqueles primeiros anos da República.

Os charmosos entrechos da peça são entremeados por músicas compostas por promissores talentos musicais da época, tais como Assis Pacheco, Luis Moreira e Nicolino Milano. Dessa forma, Artur de Azevedo, sintonizado com o gosto do público e com a efervescente produção de teatro musicado de seu tempo, propunha, com suas burletas e operetas, a interação de ritmos nacionais com gêneros importados, dando-nos uma amostra do variado panorama musical brasileiro naquela virada do século.

A Capital Federal é uma peça básica para a construção do humor nacional. Vale muitíssimo a pena lê-la!

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Autor: Leivison Silva

Ator da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto. Cantor lírico formado no Curso Básico de Canto Erudito da Escola de Música de Brasília, com realização de trabalhos no teatro, no cinema e na música. Iniciado na arte da palhaçaria – seu palhaço chama-se Josephyno.

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