Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

Édipo Rei é uma tragédia grega escrita por Sófocles, por volta de 427 a.c., talvez sua obra mais conhecida. O nome do nosso protagonista, Édipo, está presente não só nas conversas entre intelectuais, ou nas palestras de figurões do universo acadêmico. O protagonista de Sófocles retornou ao epicentro dos debates ocidentais no século XX através da psicanálise, quando Sigmund Freud se valeu de Édipo Rei para erguer um dos pilares da teoria psicanalítica, o Complexo de Édipo. Michel Foucault, filósofo francês, também se referenciou na história do rei de Tebas para analisar as práticas jurídicas da Grécia Antiga. Já na Grécia Clássica, Aristóteles viu em Édipo Rei o modelo de Tragédia mais perfeito. Toda essa repercussão chegou aos corredores das escolas, às mesas de bares, às salas de televisão, e até mesmo aos pontos de ônibus. É claro que, no Brasil, não chega a ter o impacto de uma final de campeonato ou de novela, mas com certeza “édipo” não é uma palavra estranha aos mais diversos grupos sociais brasileiros. Com toda essa força, Édipo não deixa de estar presente nos palcos, ainda hoje, e essa presença se faz necessária. Recentemente, em Brasília, Denis Camargo (foto) dirigiu e protagonizou Édipo Rei dos Bobos, unindo, de forma belíssima, a arte da palhaçaria com a tragédia grega. Sucesso absoluto! Com toda importância que a obra impõe, chegamos a mais uma resenha sobre o texto da tragédia grega. Tragédia essa que para muitos é o embrião do teatro no ocidente e, para nós, o embrião do nosso próprio entendimento, enquanto homens e mulheres no século XXI.

A tragédia se inicia com o povo aos portões do palácio de Tebas, onde reina Édipo ao lado de sua esposa Jocasta. O povo vai até o seu rei pedir que interceda por eles, visto que um grande mal, por castigo divino, cai sobre a cidade. O assassinato de Laio, o rei a quem pertencia o trono antes de Édipo, causa a insatisfação dos deuses, que querem justiça para esse crime. Assim como no passado, quando Édipo livrou Tebas da Esfinge, decifrando seu enigma, o povo esperava de seu rei alguma atitude que pudesse identificar o assassino, puni-lo, e consequentemente livrar a cidade da maldição. Édipo se prontifica, apaixonadamente, a destruir aquele que esteja causando o padecimento do seu povo. Mas o primeiro impasse que se apresenta é o desconhecimento do autor do crime. Laio fora assassinado longe de Tebas.

Creonte, cunhado e amigo de Laio, sugere que se consulte um adivinho, o velho e cego Tirésias. Ele poderia revelar quem foi o assassino de Laio. Assim, os passos da tragédia vão tomando um ritmo cada vez mais intenso e rápido. Tirésias chega às portas do palácio para ouvir de Édipo qual o vaticínio ele pretende obter. Mas se surpreende quando o rei pede que lhe seja revelado o nome do assassino do seu antecessor. O velho se recusa a dizer, sabendo que suas palavras causariam um grande mal a Édipo. Mas o rei insiste, e ouve as palavras que lhe roubariam os  últimos momentos de paz. Fora ele, Édipo, que assassinara o Rei Laio antes mesmo que chegasse a Tebas. Tais palavras deixam todos os presentes atônitos. Édipo, então, nega com veemência, não aceita que as palavras de Tirésias sejam verdade. E para ele não faziam sentido, tendo em vista que não se lembrava de ter matado nenhum rei. Acusado e se sentindo injustiçado, Édipo passa a acusar Creonte de tentar levar o povo contra o seu rei. Diante das acusações, Creonte afirma  inocência, e continua leal ao rei, mesmo que seja desacreditado. O conflito só diminui com a intervenção de Jocasta, que vem ao palco para verificar de que se tratava aquela contenda.

Dois vaticínios do passado explicam tamanha confusão. Quando Laio e Jocasta tiveram seu único filho, foram ao oráculo saber o que ele diria sobre a criança. E ficaram estarrecidos. O oráculo profetizou que a criança mataria o pai e se casaria com a mãe. Mesmo com resistência de Jocasta, Laio ordenou que um dos seus servos levasse a criança e a atirasse do alto de um monte. O segundo vaticínio foi dado a Édipo quando era jovem. O oráculo lhe disse que mataria seu pai e desposaria sua mãe. Com horror, ele fugira de casa. Essa fuga resultaria na sua chegada a Tebas, onde decifrou o enigma da esfinge, logo após a morte de Laio.

A semelhança entre os dois vaticínios não é puro acaso. Em posse das informações sobre o que o oráculo disse a Laio, Édipo já suspeita que podia ser filho de Laio e de sua mulher Jocasta, com quem está casado e tem quatro filhos. Mas tenta desacreditar do oráculo. Uma última esperança resta ainda a ele. Jocasta, sua mãe e esposa, pede que ele convoque imediatamente o servo que sobreviveu ao ataque que resultou no assassinato de Laio. O servo, ao ver Édipo, reconhece a face do assassino. Relata aos presentes a morte do antigo rei com detalhes, detalhes estes que o próprio Édipo também se recorda, chegando, enfim, a conclusão de que fora ele o assassino de Laio. Mas como poderia ser? A verdade é que aquele que fora designado a levar o menino para a morte, não cumpriu sua missão. Deu a criança de presente a um pastor que por sua vez levou-o ao seu rei, Pólibo, que não podendo ter filhos, adota o menino abandonado. Édipo cresceu como filho de sangue, mas não o era. Uma sucessão de equívocos o trouxe de volta para a terra natal.

Tudo está claro, mas o sofrimento que acomete o palácio é aterrorizante. O sangue paterno fora derramado e a mãe desposada pelo próprio filho. Repentinamente, Édipo se descobre pai e irmão de seus filhos, esposo e filho de sua mãe. O povo compreende a ira dos deuses. Jocasta se mata no palácio. E Édipo resolve se punir arrancando os próprios olhos. A Creonte é designado o trono e a missão de apaziguar a ira dos deuses e o desespero do povo tebano. Ele vê a figura horrorosa de Édipo aos frangalhos, suplicando que permita sua partida para o ermo. Assim se encerra a tragédia edípica.

Édipo Rei é sem dúvida uma das obras teatrais mais importantes de todos os tempos. Por ela podemos observar as mais diversas facetas humanas em análises clássicas ou contemporâneas. A sobrevivência dos versos de Sófocles, assim como os de Ésquilo e Eurípedes, possibilitou que toda uma tradição dramatúrgica pudesse ser retomada e ampliada muitos séculos depois. Esse é o papel da memória e da história, permitir que saibamos quem somos e de onde viemos. Essa mesma memória que permitiu ao Rei Édipo saber quão trágicas foram suas escolhas. É por isso, caro leitor, que conhecer a nossa própria história nos permite escolher equilibradamente e nos posicionarmos diante da vida. Já a atitude de ignorar, essa nos leva à tragédia de nós mesmos. Assim como Édipo.

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Por Alex Ribeiro

Conhecer a si próprio
Jornada mais dura
Dura ainda uma vida
Toda essa aventura
Vê!

Reconhecer o seu espaço
Ver-se no reflexo e ação
Saber de onde vem
Desejar um novo caminho
Vai!

Ser a si mesmo o desafio
Descortina, desata as amarras sociais
Se ama profundamente
Permitindo-se a si mesmo
Ser!

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Por Alex Ribeiro

O Colibri é apaixonado
Sabe que as pétalas são belas
De um encanto que exubera

Mas o nosso apaixonado
Com seu bico alongado
Busca a beleza interior
Busca profundamente o amor

Seu coração bate acelerado
Seu voar é inquieto
Só quer ter por perto
A flor
Por quem se apaixonou.

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