Baden-Baden sobre o Acordo

Por Alex Ribeiro

A Peça Didática de Baden-Baden Sobre o Acordo foi escrita por Bertot Brecht em 1929, e teve sua estreia no dia 28 de julho daquele ano. Esta foi uma das obras que o dramaturgo alemão dedicou às escolas, pretendendo alcançar um envolvimento ativo do público com o espetáculo. Além do sentido artístico da peça, Brecht também se preocupava com o teor didático da mesma. Desejava, com isso, fazer o público compreender e refletir, a partir da peça, sobre a realidade social e política na qual estavam inseridos. Nesta obra, Brecht coloca a reflexão sobre o progresso técnico e científico daqueles anos, questionando a relevância destes progressos dentro do desenvolvimento social. Ali se coloca como os avanços científicos estavam ultrapassando a importância do ser humano, que acabava sendo sacrificado em nome da ciência. E Brecht faz questão de ir a fundo, mesmo que de maneira sucinta, nas dores ali escondidas. O herói de guerra, na figura do aviador, que atravessara longas distâncias em grandíssimas alturas, é colocado num lugar de destaque, enquanto os mecânicos acidentados, que trabalharam para que ele conseguisse o feito, são condenados à morte, esquecidos no anonimato. De maneira sutil, Brecht nos mostra como são construídos os heróis, com respingos de sangue inocente.

A peça se inicia com um relatório sobre o voo do aviador. Após a queda do avião, o coro vai decidir se vai ajudar ou não os que se acidentaram. Neste momento, Brecht faz uma alegoria estarrecedora. Utiliza-se de três palhaços para demonstrar como a oferta de ajuda nada mais é do que uma má intenção. O palhaço Smith está em dificuldade e pede ajuda aos outros dois palhaços para lidar com suas dores. A ajuda recebida, vinda dos outros dois, só faz piorar a situação de Smith. Este fato se assemelha muito à ajuda que é dada pelas potências mundiais a algum país que dispõe de recursos que lhes interessam, leia-se petróleo. Criam uma guerra para “ajudar” aquele país a enfrentar seus problemas e só fazem piorar a situação.

Brecht, com o didatismo que a peça objetiva alcançar, mostra claramente como muitas vezes é perversa a ajuda oferecida para solucionar dificuldades pelas quais estão passando um determinado povo. Na peça, o coro decide por não ajudar. É o que ele chama de “O homem não ajuda o homem”. Após essa alegoria, a peça se encaminha para o final, numa crueldade nua. Os mecânicos que se acidentaram no voo têm de renunciar a si mesmos para, então, morrerem no esquecimento.

A peça não deixa o leitor/espectador desamparado pela aparente falta de uma ajuda que seja verdadeira, bem intencionada. Porém, propõe uma solução que não é nada passiva, mas que, ao contrário, exige esforços de todos. A única saída para Brecht é transformar o mundo. Mudar as condições e relações que se estabeleceram ao longo do tempo, e que mantêm o poder nas mãos de uns poucos, deixando a maioria abandonada à própria sorte. E se naquela época o mundo estava se transformando pelas primeiras ebulições tecnológicas, o homem deveria, nas palavras de Brecht, transformar o mundo transformado, para que pudesse dar a devida importância para si próprio. E hoje, o que nos é importante? Nós nos ajudamos? Ou, entulhados que estamos por tanta tecnologia, estaríamos ainda mais distantes de nós mesmos? Para buscar respostas, caro leitor, não vale pesquisar no Google.

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Autor: Alex Ribeiro

Ator da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto, psicólogo, poeta.

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