Por Alex Ribeiro
Uma cidade, um café, um encontro
Ela sonhou com viagens
Com um lugar mais justo
Com uma taça de vinho
Músicas tranquilas embalando a noite
Sentado à sua frente estava ele
Um homem apaixonado e cego
Que ela achava muito ingênuo
Mas que de certa forma
Parecia-lhe encantador
Esse homem, cada dia mais próximo
Foi se inserindo na pintura
Ganhando espaço cada vez maior
Um personagem na vida dela.
Matrimônio, uma casa, solidão
Quantos outonos vieram
E a vida dela perdeu a cor
Estava cansada, excessivamente casada
Não lia mais poesias
Não sonhava, nem sorria
Apenas permanecia ali esperando
As lágrimas daquelas nuvens cinzas
Que caindo sobre a vidraça da janela
Traziam um encanto à casa
Que se destacava sozinha, num lugar distante.
A doença, o medo e a despedida
Uma tarde não voltou pro trabalho
Em casa, não reconheceu o seu quarto
Se viu num lugar completamente estranho
Não conhecia os rostos amigos
Seus piores pesadelos nasciam
Das paredes, do chão, dos cantos escuros
Tudo foi aterrorizante
E, pra ela, aqueles pequenos minutos
Foram o maior abandono de sua vida
Ela foi levada, não mora mais aqui
Seu novo endereço é a casa de saúde
Epílogo, pétala, enfim liberdade.
Agora ela não existe mais
Ela que sonhou com um lugar melhor
Com a justiça guiando todos os passos
Com roseiras no jardim, na primavera
Pra ela tudo fora outono
Tudo foi cinza, numa nuvem de lágrimas
Partiu sem conhecer
Sem ter a liberdade de voar
Por ter-se submetido a ficar
Como uma pétala arrancada
Ela se foi rápido demais
As almas sensíveis nascem para a liberdade
E só assim que elas podem
Só assim que elas são
Enfim partiu em liberdade
Pela primeira e única vez.