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O texto teatral Vinho Tinto Seco foi escrito pelo dramaturgo Antônio Roberto Gerin, em 2005, e teve sua primeira montagem no ano de 2016, na cidade de Passos, Minas Gerais. Agora o espetáculo ganhará uma segunda montagem, com estreia marcada para o dia 24 de maio de 2019, no Teatro Goldoni, ficando em cartaz até o dia 9 de junho, sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h. O espetáculo tem a direção do próprio autor, e no elenco os atores da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto, Alex Ribeiro e Leivison Silva.

Leivison Silva como Químico e Alex Ribeiro como Pianista.  Fotografia: Marcelo Dischinger

Numa determinada noite, um jovem professor de Química do Instituto Militar de Engenharia compra uma garrafa de vinho para comemorar, com sua namorada, a sua ida para a Universidade de Stuttgart, na Alemanha, onde fará, por três anos, um doutorado em Química. Enquanto espera sua namorada Gabriela chegar, o vinho e as duas taças postas sobre a mesa da sala, ele começa a entrar em sérias dúvidas se esta seria mesmo a escolha certa para a sua vida, isto é, abandonar seus sonhos de ser um grande pianista para poder se dedicar exclusivamente ao doutorado. Não é a Química a sua escolha de vida. Sua escolha natural de vida é a Música. O jovem nascera pianista, e desde criança tem como única paixão a Música, e sua referência é a avó paterna, grande pianista, por quem nutria um fascínio silencioso e incontrolável. Apesar de lutar desesperadamente por seu sonho, não teve na família qualquer apoio para seguir a carreira de pianista. A despeito das dificuldades, chegou à juventude como um pianista admirado por grandes maestros. Só faltava dar o passo definitivo para o sucesso. No entanto, vê-se agora, nesta noite, com a decisão tomada de abandonar tudo e ir para a Alemanha. Eis que a dúvida passa a consumi-lo.

O Químico e o Pianista. Fotografia: Marcelo Dischinger

Pode nos parecer óbvio, mas o ser humano não tem como se abster de usar a principal possibilidade que o confirma como um ser livre. Todo ser humano, para sobreviver como sujeito de si, tem que escolher. Como o ar que respiramos, a escolha nos retroalimenta a cada minuto. Por exemplo. Podemos estar agora sentados, mas lembramos de que queremos tomar um cafezinho, logo ali, na mesinha à nossa frente. Tomamos a decisão de nos levantarmos e nos servirmos do café. Um dedo de xícara, meia xícara ou uma xícara inteira? Nada, pouco ou muito açúcar? Mas só nos damos conta de que vivemos de escolhas quando nos deparamos com aquele assustador momento em que temos que tomar uma grande decisão. Mamãe poderia tomar a decisão por nós. Papai. A titia. Seria, provavelmente, um desastre.

Fotografia: Marcelo Dischinger

O autor de Vinho Tinto Seco nos traz o momento crucial em que o jovem pianista está no limite de sua vida, e pode, com uma simples decisão, decretar o fim da sua razão de viver. Sim, sem exageros. Temos razões de viver que nos tornam reais, completos e vivos. Mas podemos nos omitir, tomando a decisão contrária. Mantermo-nos numa zona neutra, em que nos anulamos como essência para assumirmos uma existência estranha a nós mesmos. E agora é o momento de o pianista decidir entre ser ele, mesmo diante de tantas impossibilidades, em que sacrifícios e renúncias o acompanharão noite e dia, ou se tornar um ser inconsciente de sua existência, que é quando nos limitaremos apenas a decidir que cafezinho tomar.

Cia de Teatro Assisto Porque Gosto

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Por Alex Ribeiro

O Ciúme da Ciumenta é um esquete teatral de Antônio Roberto Gerin, escrito em 2017. Este esquete é mais um recorte de vida do cotidiano de um casal, Sonsino e Pacífica, que se transforma, primeiro em palavras, na bela literatura de Antônio Roberto Gerin, e depois em cena teatral, compondo juntamente com A Mulher do Marido e O Casamento do Marido, o espetáculo Até que o Amor nos Separe. Este espetáculo tem estreia marcada para o dia 8 de fevereiro de 2019, no Teatro Goldoni, com direção do mesmo Antônio Roberto Gerin, e no elenco Alex Ribeiro e Leivison Silva. Nesse belo esquete, vemos revelada mais uma noite do nosso casal de protagonistas, que vivem dividindo o espaço do lar com um hóspede invisível, porém, nada silencioso, o ciúme.

Sonsino, após uma noitada de cervejas com os amigos, entra em casa às duas horas da madrugada e encontra pela frente sua mulher, Pacífica, furiosa. Ela já sabe que no porta-luvas do carro do marido tem uma calcinha. Tomada de descontrolado ciúme, faz de tudo para que o marido lhe entregue a chave do carro, para que ela possa ir verificar se a denúncia, que a consome, é verdadeira. O marido nega a existência de qualquer peça íntima feminina em seu carro, mas, mesmo negando, recusa-se a entregar a chave. Se nada deve, por que não entregar a chave e acabar logo com essa discussão?

O ciúme de Pacífica, como todo ciúme, faz com que ela rememore várias falhas e deslizes de Sonsino, que, por sua vez, nega de forma tão veemente que é quase impossível ao público se posicionar e torcer para um ou outro. Ao mesmo tempo, Pacífica não parece acreditar no que diz seu marido, e mais, não parece acreditar que ele tenha coragem de negar os fatos levantados por ela. Será mentira o que diz Sonsino? Será exagero a forma com que Pacífica acusa o marido? Aí está o segredo do humor leve e ácido que Antônio Roberto Gerin constrói no texto, dando aos atores não só a possibilidade de encenarem bons personagens, mas também de se divertirem com eles.

Além das peripécias do casal Sonsino e Pacífica, apresentados aqui nessa resenha, o esquete não deixa de ter uma veia dramática consistente, o que dá aos personagens e à situação uma sensação de realidade muito forte. Essa sensação permite que identifiquemos Sonsinos e Pacíficas num vizinho, amigo, parente ou até em nós mesmos. Mas, calma, caro leitor, pois aqui tudo é tratado com leveza e humor, deixando o esquete divertido e agradável, mesmo que se vejam nele a vida de muitos casais. A relação a dois sempre tem lá seus conflitos. Portanto, se é o ridículo a dois que nos é mostrado, vamos rir, também, a dois. Mesmo que seja com uma pulga atrás da orelha.

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A Mulher do Marido faz parte do espetáculo Até que o Amor nos Separe, que estreou dia 8 de fevereiro de 2019, no Teatro Goldoni.

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Por Leivison Silva

O Casamento do Marido é um esquete teatral escrito em 2018 pelo dramaturgo e diretor paranaense Antônio Roberto Gerin. Juntamente com “A Mulher do Marido” e “O Ciúme da Ciumenta”, O Casamento do Marido compõe a trinca do espetáculo teatral “Até que o Amor nos Separe”.

O esquete conta a história de Poderosina, mulher prática e determinada, que não mede esforços para conseguir o que quer, utilizando-se até mesmo de meios escusos para conquistar a sua grande paixão, o jovem Crueldino. Ele, embora seja um homem bastante culto, tem a vontade fraca, e se deixou, no passado, cooptar por Poderosina. Sabendo que vive uma relação unilateral, Poderosina se refugia na estratégia de comemorar datas especiais para tentar manter viva a chama do casamento. No entanto, Crueldino foi, aos poucos, tomando consciência do quão ele estava à mercê dos caprichos da mulher, e resolve fazer um movimento de retomada de sua vida, de sua liberdade. Ao longo do esquete, Crueldino expressa sua insatisfação com o casamento através das grosserias que dirige a Poderosina. Sob a ameaça iminente de ter o casamento desfeito, Poderosina traz revelações inesperadas, o que impossibilita a realização do desejo de separação de Crueldino. Até o próximo embate, o casamento permanecerá a salvo.

Em O Casamento do Marido, Gerin trata com galhardia e perspicácia da temática do casamento, mostrando brilhantemente com sua dramaturgia como muitas vezes nos deixamos enredar por situações e relacionamentos tóxicos, seja por carência ou por comodismo, e que, quando acordamos para isso, já estamos de tal maneira imersos nessa situação, que sair dela torna-se uma verdadeira odisseia. No recorte apresentado no esquete, Crueldino diminui a esposa, sem saber que está diminuindo a si mesmo, já que, em algum momento e de alguma forma, Poderosina foi a sua escolha. Por outro lado, O Casamento do Marido mostra a dificuldade de Poderosina de deixar ir, dificuldade esta tão comum, que é quando sentimos que uma pessoa já não nos diz mais nada ao coração, mas que insistimos em mantê-la ao nosso lado, como a um fantasma.

O Casamento do Marido é uma obra teatral de pequena extensão física, mas de grande alcance humano e existencial, que vale muito a pena ser lida, encenada e assistida.

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 O Casamento do Marido fez parte do espetáculo Até que o Amor nos Separe, que estreou dia 8 de fevereiro de 2019, no Teatro Goldoni.