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Por Alex Ribeiro

Os Horácios e os Curiácios é uma peça de Brecht, que conta, de forma alegórica, o que aconteceu em Roma, na chamada guerra dos trigêmeos. Na peça, Brecht divide cada um dos três irmãos, lutando contra si, como se fossem agrupamentos de guerreiros: arqueiros, lanceiros e espadachins.

Como acontecido na guerra dos trigêmeos, dois dos Horácios morrem em batalha, e o terceiro se vê sozinho contra os demais. Porém, estando os sobreviventes Curiácios muito feridos e já cansados, o triunfo é dos Horácios.

Na história de Brecht, os Curiácios pretendiam tomar as terras e minas dos Horácios e convocaram seus exércitos para a invasão da terra vizinha. Eles tinham em mãos as melhores armas e seus guerreiros foram felizes nas primeiras batalhas, mas a um alto custo, visto que os Curiácios saem feridos dessas batalhas. Dois Horácios morrem, no entanto, o terceiro Horácio, poupado de ferimentos, vence um a um os Curiácios.

Tal peça nos faz lembrar o que aconteceu no Brasil, nas eleições de 2014. O país rachou-se em duas grandes massas que se digladiaram pelas redes sociais, mesas de família e demais encontros sociais. Ao fim, já no limite da batalha, um dos lados conseguiu uma reviravolta surpreendente. Isso não significou paz para o país, e muito menos que as coisas ficariam tranquilas para os “Horácios brasileiros”.

Agora, a menos de um ano da próxima eleição presidencial, nos perguntamos se novamente haverá um acirramento entre as facções políticas instauradas. Tombou-se o vitorioso nas urnas, mas tombou-se também o representante mor da oposição. Aonde chegaremos a partir de 2019? Brecht infelizmente não aponta o que se sucede após a batalha, mas nós pudemos sentir na pele o esfacelamento moral da nação. E agora? Conseguiremos uma reviravolta “horaciana” que nos traga de volta, nos próximos anos, o equilíbrio do bom senso? Será nossa missão.

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O Judas que há em você

Por Alex Ribeiro

O Judas em Sábado de Aleluia é uma peça de Martins Pena, encenada pela primeira vez em 1844, no Rio de Janeiro. Narra os acontecimentos na casa do cabo da guarda nacional, José Pimenta, e tem como personagem principal o apaixonado Faustino.

Maricota, filha de José Pimenta, é uma moça que está enamorada de inúmeros rapazes e é por causa dela que a peça acontece. Após receber a visita de um dos seus pretendentes, nosso Faustino, ela se desespera com a chegada de outro pretendente, o Capitão. Maricota manda que Faustino desapareça, mas o que o nosso “herói” consegue fazer é apenas se esconder, disfarçando-se de Judas.

É através do disfarce que Faustino descobre a moça namoradeira, o pai falsificador, o capitão incompetente e covarde, e o amor genuíno de Chiquinha, irmã de Maricota, a única personagem a quem Martins Pena salva. Porém, chegado o sábado de aleluia, as crianças avançam para bater no Judas e, vendo-se em tal apuro, Faustino sai correndo para a rua. Pânico! É um fantasma?

Quando retorna, Faustino tira o disfarce e coloca os pingos nos “is”. Ele, que a princípio era o perseguido pelos demais, agora era o mais temido. Detinha as informações. Assim sendo, nosso protagonista designa o futuro de cada personagem, exercendo o que seria seu senso de Moral.

Às vezes, quando estamos diante de uma comédia, deixamos que o riso nos baste e, por vezes, no descuido, deixamos passar as críticas que ela traz. Martins Pena nos apresenta, em meio ao riso, os costumes apodrecidos de uma sociedade brasileira do século XIX. Mas, dois séculos depois, será que há diferença?

Os agentes sociais, representados nos personagens da peça, são um sinal de como as coisas ainda acontecem no Brasil. O que falta é assumirmos o papel de Faustino, sermos apaixonados pelo nosso país, passarmos a ter a consciência de como é que esse país funciona para, então, exigirmos as mudanças que assim acharmos necessárias.

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Por Alex Ribeiro

O Avaro é uma comédia de Molière, datada de 1668. Conta um recorte da vida de Harpagão, um avaro famoso por restringir até mesmo os filhos de gastarem qualquer mínima quantia do seu dinheiro.

Molière foi ousado ao fazer uma comédia de cinco atos, toda ela escrita em prosa, coisa difícil para a época, onde costumavam serem feitas em versos, mas o espectador não se entedia, pois Harpagão é um daqueles personagens com quem a plateia fica o tempo todo conectada, querendo descobrir o seu próximo passo e poder dar boas risadas com ele.

Harpagão se vê numa confusão entre a vontade de ver seus filhos casados e a vontade de ver ele mesmo casado. Mas a confusão está mesmo na situação em que os pretendentes ou são comuns ou de certa forma estão interligados por laços familiares. Turrão, ele quer que seja feita, acima de tudo, a sua vontade, e desde que não mexam em seu dinheiro.

O ponto alto da comédia é quando lhe subtraem o dinheiro. Aí ele se revela em toda sua mesquinharia absurda e não menos engraçada. Tudo podemos, desde que não me custe nada! Salvem meu dinheiro!

Como sempre, o teatro não deixa de nos fazer olhar para nossa realidade, e nos fazer refletir sobre ela. Essa comédia não se faz diferente. Quem entra em contato com Harpagão, pode ver nele, refletidos, inúmeros personagens do nosso cenário político-social, sobretudo uma classe média odienta. Mas, ao contrário de nosso personagem, eles não nos fazem rir, pelo contrário, desperta em nós o asco que só a história vai saber dimensionar.

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