Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

Um Inimigo do Povo é uma peça de Henrik Ibsen, escrita em 1882. Ela faz um recorte da vida do Doutor Stockmann, em que ele sai da posição de amado e querido pelo povo para a posição de inimigo, traidor e causador das desgraças da sua cidade.

Doutor Stockmann, após um longo estudo, descobre que o estabelecimento de banhos da cidade, um lugar visitado por pessoas de todos os lugares e famoso pela sua salubridade, não é de fato o lugar salubre que imaginam, e propõe expor seu relatório ao povo.

Tal descoberta gera um atrito entre o Doutor Stockmann e seu irmão, o prefeito. O estabelecimento de banho é considerado pela cidade como principal fonte de riqueza, já que traz pessoas de todos os lugares, em busca de suas águas limpas e saudáveis.

Vendo a posição firme do Doutor, o prefeito vai buscar apoio para resolver o embate. Após manipulação das informações, ele consegue o apoio dos pequenos proprietários, sujeitos medíocres que, por terem algumas posses, exercem alguma influência, principalmente sobre seus subordinados. E consegue também o apoio da imprensa da cidade, que se vende ao prefeito.

A combinação está perfeita: o poder político, a opinião dos proprietários e a imprensa convencem o povo que o Doutor é o inimigo e ele, junto com sua família, sofre a mais implacável perseguição.

Ao ler essas linhas, talvez você imagine que a peça poderia ter sido inspirada na atual situação política brasileira, mas não, afinal, foi escrita ainda no século XIX. Mas a sensação de que o enredo e a trama nos são familiares é real, porque estão aí os mesmos ingredientes dramáticos, à nossa frente, para não dizer na nossa cara. O teatro denuncia, ontem e hoje. Em quem acreditar?

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.

Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

Calabar é uma peça musicada, escrita por Chico Buarque e Ruy Guerra, em 1973. Narra os desdobramentos da morte de um personagem dos tempos coloniais, Domingos Fernandes Calabar, que já foi considerado o maior traidor da história brasileira.

A história se passa entre os confrontos de portugueses e holandeses, no Brasil, em solo nordestino. Calabar é entregue e condenado à morte por traição ao Brasil, após ser delatado por um amigo próximo, chamado Souto. Por delatar seu amigo, tal ação permite que Souto se torne alferes e, depois, capitão. Mas como portugueses e holandeses acabam por fazer as pazes e, em consequência, novos acordos, o delator se perde nesse emaranhado de conchavos e acaba também assassinado.

Bárbara, mulher que amava Calabar, é outro ponto de traição dentro da trama. Amava Calabar, e depois quis se consumir no amor do traidor de Calabar, o capitão Souto.  Ficou sem amor algum.

Outros personagens também carregam nas suas ações o mote da traição. Temos o Frei, os comandantes, o príncipe e os próprios reinados de Portugal e Países Baixos. Como se pode ver, não escapa ninguém.

Mas a sensação maior que predomina é que, no fundo, quem foi traído, e continua sendo, é o povo. A disputa pelo poder usa o povo para defender diferentes interesses de lado a lado, lados estes que logo adiante serão aliados. Em quem confiar? Isso se parece muito com a Guerra Política que atinge o nosso país, atualmente. O que faz vermelhos e azuis se morderem de raiva é o mesmo motivo que os faz aliados para garantir o êxito nas urnas ou salvar interesses comuns. O povo continua a mercê dessa guerra, se atacando, se digladiando nas redes sociais, mesmo sendo colocados, como sempre são, na condição de vítimas de manobras escusas. No entanto, o povo continua estampando nos muros país afora o nome daquele que, no momento, elegem como seu traidor. Afinal, todos nós achamos que é preciso que algo seja feito. É preciso não temer!

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.

Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

Ubu-Rei é uma peça de Alfred Jarry, que teve sua estreia em 1896, em Paris. É a peça mais famosa desse autor e é considerada um marco, a origem do que viria a ser o teatro surrealista e o teatro do absurdo. Nesse primeiro semestre de 2017, o fantástico Marco Nanini voltou aos palcos no papel do protagonista, Pai Ubu.

A peça se passa durante o curto reinado de Pai Ubu, na Polônia, depois de desferir um golpe contra o rei Venceslau. Após ser instigado pela sua esposa, a Mãe Ubu, a tomar o poder, Pai Ubu decide executar o golpe e convida o Capitão Bordura para auxiliá-lo na tomada do poder.

O que mais chama a atenção é a figura do Pai Ubu, um tirano boçal, que impacta o público pelos seus absurdos. Ele mostra, a cada momento, uma faceta diferente: covarde, avarento, orgulhoso e atrapalhado, de uma maneira bastante cômica, características essas que nos lembra, em certa medida, os bufões e mesmo alguns personagens da Comédia Dell Arte.

O teatro do absurdo, inaugurado por Jarry, se estende ao longos dos anos, chegando, em doses bem reais, ao nosso Brasil de hoje, onde assistimos, pasmos, aos absurdos perpetrados por um governo bem ao estilo do Pai Ubu. Um tirano igualmente boçal que, pela ajuda de um Capitão Bordura, leia-se oposição inescrupulosa, está no poder esfacelando os direitos e conquistas sociais do nosso povo. Está na hora de o absurdo sair da nossa história e permanecer somente onde ele é bem vindo, na arte.

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.