Por Alex Ribeiro
Um Inimigo do Povo é uma peça de Henrik Ibsen, escrita em 1882. Ela faz um recorte da vida do Doutor Stockmann, em que ele sai da posição de amado e querido pelo povo para a posição de inimigo, traidor e causador das desgraças da sua cidade.
Doutor Stockmann, após um longo estudo, descobre que o estabelecimento de banhos da cidade, um lugar visitado por pessoas de todos os lugares e famoso pela sua salubridade, não é de fato o lugar salubre que imaginam, e propõe expor seu relatório ao povo.
Tal descoberta gera um atrito entre o Doutor Stockmann e seu irmão, o prefeito. O estabelecimento de banho é considerado pela cidade como principal fonte de riqueza, já que traz pessoas de todos os lugares, em busca de suas águas limpas e saudáveis.
Vendo a posição firme do Doutor, o prefeito vai buscar apoio para resolver o embate. Após manipulação das informações, ele consegue o apoio dos pequenos proprietários, sujeitos medíocres que, por terem algumas posses, exercem alguma influência, principalmente sobre seus subordinados. E consegue também o apoio da imprensa da cidade, que se vende ao prefeito.
A combinação está perfeita: o poder político, a opinião dos proprietários e a imprensa convencem o povo que o Doutor é o inimigo e ele, junto com sua família, sofre a mais implacável perseguição.
Ao ler essas linhas, talvez você imagine que a peça poderia ter sido inspirada na atual situação política brasileira, mas não, afinal, foi escrita ainda no século XIX. Mas a sensação de que o enredo e a trama nos são familiares é real, porque estão aí os mesmos ingredientes dramáticos, à nossa frente, para não dizer na nossa cara. O teatro denuncia, ontem e hoje. Em quem acreditar?
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