Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

Solness, o Construtor é uma peça de Ibsen do final do século XIX, que conta a história de um construtor muito bem sucedido, que constrói lares para que as famílias possam viver neles. Mas que receia a vinda da mocidade, que pode lhe fazer perder o lugar de maior construtor.

Solness tem um escritório de arquitetura, onde emprega um jovem promissor, Ragnar. O jovem arquiteto pretende seguir a carreira no seu próprio negócio e, assim sendo, pede a permissão de Solness para que possa construir uma nova casa, da qual ele projetara os desenhos.

Solness se vê pressionado e reluta em liberar o funcionário, pois sabe do talento do rapaz (que o rapaz tem) e teme que essa “mocidade” tome o seu lugar, que já há algum tempo conquistado por ele. No entanto, o aparecimento da jovem Hilda encoraja Solness a deixar o espaço livre para o rapaz seguir seu caminho.

A personagem Hilda, jovem e cheia de sonhos, contrasta com Aline, esposa de Solness, que vive em permanente melancolia por dores do passado. Hilda tem papel fundamental em alimentar em Solness a força para continuar a construir e enfrentar seu medo de altura.

Solness está finalizando sua nova casa e nela tem uma bela e imensa torre. Torre esta que, na inauguração, receberá uma bela coroa no seu ponto mais alto. A coragem que Hilda lhe inspira faz com que Solness suba os andaimes para colocar a coroa, mesmo que Aline insista para que ele não o faça. É a força da mocidade, leia-se futuro, superando o peso do passado.

A peça teve inúmeras montagens e perdura ao tempo pelo ótimo dramaturgo que Ibsen foi. Porém, ao se chegar ao fim a peça, deixa a sensação de que algo faltou, que a história se passou e não causou o impacto que esperávamos dela. Afinal, é apenas uma peça descritiva de algo que se passou com o dramaturgo, de maneira simbólica? Daí, talvez, vejamos um limite com o qual  nós mesmos nos deparamos por vezes em nossas próprias vidas, algo que precisa ser rompido para que possamos nos transformar, dar passos adiante na nossa própria história, mesmo que já estejamos assentados naquilo que construímos por toda a nossa vida.

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Por Alex Ribeiro

A Falecida é uma peça de Nelson Rodrigues que conta a trajetória de Zulmira, mulher de classe média baixa, até sua morte. Teve estreia no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1953.

Zulmira vive um casamento monótono, onde seu marido, Tuninho, dá mais importância ao futebol e a seu time do coração, o Vasco, do que à própria Zulmira. Ela, cada dia mais, se distancia do marido, se descobre doente e resolve começar os preparativos do seu velório, com o desejo de, quando morrer, ter um funeral estrondoso.

À beira da morte, faz o marido jurar que vai buscar uma quantia imensa de dinheiro com um homem misterioso, para que assim o funeral do século aconteça. Quem seria o tal homem? Diante de tanta negligência do marido, seria absurdo pensar que a Zulmira tivesse um amante rico?

Outro ponto de conflito dessa mulher mal amada é sua prima e vizinha, Glorinha, que desperta em Zulmira uma raiva muito intensa e venenosa. Seria inveja? Ou será que Glorinha descobriu algo que não podia? Parece que Zulmira não pode mais viver em paz com a sua prima, ali, morando ao lado. Com um silêncio extremamente incômodo.

Zulmira morre e o marido, desempregado, vai atrás do dinheiro. Será que, finalmente, pelo menos o seu último desejo será atendido pelo marido?

Mais de sessenta anos depois da estreia da peça, os relacionamentos a dois continuam sendo o motivo de infelicidade de muitos casais. Afinal, qual o motivo de duas pessoas estarem juntas? Que esperam elas uma da outra? O teatro, essa arte mágica, mostra que as relações têm nuances tão precisas e tênues que às vezes passam despercebidas pelos próprios envolvidos. O teatro faz uma lente de aumento no miudinho da vida.

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Por Alex Ribeiro

A Alma Boa de Setsuan é uma peça de Bertolt Brecht, concluída pelo autor em 1940. Conta a história da prostituta Chen Tê, considerada pelos deuses como a única alma boa da pequena e miserável cidade de Setsuan.

Chen Tê consegue sair da prostituição, graças ao pagamento de gratidão que recebeu dos deuses, e compra uma pequena tabacaria. A partir do momento em que se instala no seu comércio, ela passa a receber visitas pedindo ajudas diversas, desde pouso na sua loja, até mesmo comida.

O decorrer da peça mostra uma sociedade impregnada de trapaças, corrupção, mentiras e outras inúmeras maldades que os personagens ostentam. E é impressionante como Chen Tê acaba por se deixar ser explorada por essas  pessoas de Setsuan, a ponto de não conseguir fazer o bem a si própria e chegando a ponto de entrar em ruína total.

Um misterioso primo aparece por vezes para socorrer os negócios de Chen Tê, e salvá-la das garras da gente maldosa de Setsuan, que se comportam como verdadeiros parasitas em relação à bondosa comerciante.

Por fim, Brecht mostra como é difícil se manter bom em meio a uma sociedade podre, que respira maldade. A alma boa faz um esforço enorme para se manter assim, porém, cada vez mais ela vê que é muito difícil se manter boa para com os outros e também para consigo mesma. Seria egoísmo pensar um pouco mais em si mesma?

Hoje, no Brasil, o que se vê nas redes sociais, diariamente, só para citar um exemplo, é uma exposição de maldades que a tela do computador permite que sejam expressas anonimamente.  Mas o aproveitar-se do outro em favor de interesses próprios pode acontecer em qualquer lugar, desde o ambiente familiar até o trabalho, passando pelas ruas e pelas nossas instituições. Teríamos nós uma Chen Tê escondida e sufocada por aí? Talvez. Brecht nos encarrega de dar à alma boa um final decente. Seremos capazes?

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