Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

A Morte do Caixeiro Viajante é uma peça escrita por Arthur Miller, que estreou nos EUA em 1949, rendendo-lhe o prêmio Pulitzer daquele ano. É sua obra prima e, consequentemente, sua peça de teatro mais montada até hoje. Foi também adaptada para o cinema.

A peça conta a história de Willy Loman, um caixeiro viajante que passou a vida viajando para vender os produtos da companhia em que trabalhava, e que, de repente, começou a se ver velho, cansado, e com os filhos perdidos na vida, sem muita perspectiva de futuro.

Willy acreditava que se as pessoas gostassem dele e se ele conseguisse usar do carisma para convencê-las, poderia ser uma pessoa de sucesso. Foi o que ele ensinou aos filhos, Biff e Happy. O primeiro era superestimado pelo pai, que achava o garoto um fenômeno de carisma e por isso seria a tradução do próprio sucesso.

Porém, passados os anos, Biff está perdido, não consegue se firmar em nenhum emprego, e vive tendo momentos de conflito com o pai. Willy não entende qual a razão de o filho não ter se tornado um sucesso. Toda a fantasia que alimentara em sua vida vai por água abaixo.

Willy talvez tenha falhado em acreditar que o carisma, a bela aparência e a estima das pessoas eram suficientes para se construir alguma coisa na vida. Por isso a sensação, em alguns momentos, de que ele é muito orgulhoso e arrogante, e que um pouco de humildade teria sido útil na construção dos seus sonhos.

Hoje, nessa atual crise no Brasil, muitos de nós nos sentimos perdidos, com os sonhos ameaçados. Os Loman nos mostram que é preciso mais do que a aparência para enfrentar as adversidade e construir aquilo que queremos pra nós, seja em nível de país, seja no plano individual. Um sorriso bonito, uma maquiagem bem feita, gestos de simpatia, uma crença, nada disso é suficiente pra concretizarmos as verdadeiras mudanças. É preciso algo mais. É preciso ir à luta!

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Por Alex Ribeiro

O Beijo no Asfalto é uma peça de Nelson Rodrigues, que teve estreia em 1961, no Rio de Janeiro. A peça é rica em dramaturgia, tensão e revelações inesperadas. Já foi montada inúmeras vezes e conta com um belo filme, onde temos a atuação marcante de Ney Latorraca, como Arandir, e Cristiane Torloni, como Selminha, sua esposa. Atualmente, Murilo Benício está na direção do remake que entrou em processo de montagem no ano passado, e terá no elenco Lázaro Ramos como Arandir e Débora Falabella como Selminha.

A peça mostra a tragédia de um homem comum, Arandir, que vê sua vida se transformar de uma hora para outra, graças a uma imprensa famigerada, quando um repórter presencia um ato inusitado, o beijo que Arandir deu no homem que estava ali, moribundo, após ser atropelado por um lotação, em plena Praça da Bandeira.

Nelson Rodrigues, que também trabalhara na imprensa, constrói um jornalista malandro, o Amado Ribeiro, que cria estórias para fazer o seu jornal vender. Esse é o grande azar de Arandir, ter como testemunha do seu ato inesperado um jornalista inescrupuloso. Apoiado por um delegado truculento e manipulável, o jornalista transforma o ato de Arandir em crime.

Vale lembrar o quanto esta tragédia tem um significado especial para nós brasileiros, nos dias de hoje. Ela traz questões que são discutidas com bastante freqüência, entre elas, o papel que a imprensa e as mídias ocupam no cenário político brasileiro, seu vezo persecutório, suas manchetes manipulativas, a falta de escrúpulo ao se distanciar da verdade. A criminalização antecipada parece ser o principal o objetivo.

Há inúmeras outras questões que o texto acaba por revelar, dentro da sutileza de cada personagem. É como se Nelson Rodrigues nos apresentasse, em cada personagem, uma representação de uma parte dos brasileiros, numa construção quase arquetípica. E é por isso que O Beijo no Asfalto ainda continua tão atual.

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Por Alex Ribeiro

Murro em Ponta de Faca é uma peça de Augusto Boal, escrita em 1978, que teve também sua estreia nacional no mesmo ano. Boal estava exilado desde 1971, tendo vivido na Argentina, Peru, Portugal e França até então.
A peça conta a estória de três casais que estão viajando e que se conheceram nesta viagem. Com o decorrer da peça, descobre-se que estão indo de um país a outro porque foram exilados de sua pátria.
Além da intensa sensação de não pertencimento a lugar nenhum que os personagens exalam, há também outros problemas que se revelam na peça. O constante contato com a morte, nas notícias que chegam de entes e amigos que foram assassinados, a própria fuga de um refúgio a outro, a fim de se evitar a própria morte, além do implícito sentimento da dor da xenofobia, mostram a dura realidade de quem é refugiado em outro país.
A angústia não abandona o palco. O contexto da ditadura militar no Brasil faz com que a peça ganhe em intensidade dramática, porém, se olharmos para o que acontece no país hoje, podemos perceber que o sentimento de não pertencimento paira sobre os cidadãos. É como se cada pessoa fosse sua própria pátria e que a coletividade perdesse espaço na sociedade.
Dar murro em ponta de faca seria acreditar que é possível um país justo, um país incorruptível, um país de políticos decentes, uma pátria mãe que ama e não uma terra que sacrifica seus filhos todos os dias. O mais sensato seria desistir? Desistir seria o mais cômodo, com certeza, mas como se diz pelos becos deste Brasil atual, “quem vive, resiste!”.

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