Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Jackson Melo

Outra noite ela veio
Tão bela, esbanjando seus encantos
Fitou o olhar no meu
Sorriu e o beijo aconteceu
Nenhuma palavra foi dita
Os corpos pediram
E partimos para o deleite do prazer

O raiar do dia me desperta
Me viro na cama
E ao meu lado você não está
Será que tudo não passou de um sonho?
Ou a dona do meu desejo
Partiu no cair do meu sono?

A solidão me preenche…
Aperta meu peito
Mas o sofrimento logo passa
Sua falta é rotineira
E meu coração
Masoquista
Volta ao ciclo
De te querer e não te ter.

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Por Antônio Roberto Gerin

Nos idos tempos de adolescência, eu também batia minha bolinha nos finais de semana. Jogava provavelmente bem na linha, mas era um pouco melhor como goleiro. E me lembro de um desses dias em que foi marcado um escanteio para o time adversário. Eu, como um gentil goleiro, fui até a várzea pegar a bola. A meio caminho de volta ao gol, eu devolvi a bola para o adversário, que já estava a postos para cobrar o escanteio. E cobrou imediatamente, tirando proveito de que eu ainda não havia chegado ao gol. Gol desguarnecido, pimba, gol! Para o adversário.

Falo disso, depois de tantos anos, ainda com raiva. Consigo resgatar o estranho sentimento de ter sido trapaceado. Enfim, meu futebol de várzea me apresentara, desde cedo, a cartilha da desonestidade.

O que se viu durante uma partida de futebol, dias atrás, em São Paulo, foi o jogador Rodrigo Caio, defensor do São Paulo Futebol Clube, time de imensa torcida e história, abordar o juiz para desfazer um equívoco de arbitragem. O juiz acabara de punir com cartão amarelo o atacante adversário, Jô, por ter ele feito um falta dura no goleiro. Quem se chocara na verdade com o goleiro, do próprio time, fora o zagueiro Rodrigo Caio. Alertado por este, o juiz desfez a punição e aplaudiu a atitude honesta do zagueiro do São Paulo. Desfazia-se, naquele instante, momentaneamente, a máxima vigente em nossa cultura de que o importante, acima de tudo, é levar vantagem. Provável o juiz de futebol nunca tivesse presenciado, ao longo de sua carreira, honestidade parecida. Enganar outrem com a omissão da verdade é um dos piores tipos de corrupção, porque é uma corrupção miudinha, difícil de perceber, difícil de provar, mas que trafega livremente no cotidiano das relações humanas, e vai, perigosamente, pervertendo estas relações.

Vamos a alguns exemplos. Você está dirigindo numa rodovia e passa por uma blitz. Provável um daqueles carros de polícia escondido atrás de uma árvore frondosa. Imediatamente você começa a dar luz alta, para avisar os motoristas, vindo na direção contrária, da presença da polícia. E estes motoristas sortudos logo agradecem a gentileza, devolvendo, frenéticos, outra luz alta. Você vai à padaria todo dia comprar pão e leite e, provável, não pede a nota fiscal. Compra uma melancia e não pede a nota fiscal. E acha que não é obrigação sua pedir. E o vendedor acha que, se você não pediu, ele não tem a obrigação de emitir. Avança sinal vermelho na última hora, já que ainda não houve tempo de o carro, parado no cruzamento adjacente, se pôr em marcha. Ou simplesmente compra, por um bom preço, notas fiscais frias para não pagar imposto de renda. Furar filas, então, é uma das nossas trapaças mais refinadas! Estas e outras inúmeras pequenas transgressões – nem tão pequenas assim! – fazem parte invisível da vida de quem acha que levar vantagem, utilizando-se de meios ilícitos, é apenas um sinal de esperteza, de inteligência privilegiada.

Somos todos herdeiros absolutos da máxima veiculada por uma propaganda de cigarro, propaganda antiga e já desconhecida da maioria das pessoas, cujo ator era justamente um famoso jogador de futebol, chamado Gérson. Ele ensinava, através da telinha da televisão, várias vezes ao dia, de forma primorosa, que o importante é levar vantagem. Por isso, o meu adversário de adolescência, ao cobrar o escanteio, sem que eu ainda tivesse chegado ao gol, estava aplicando a Lei de Gérson, onde se pressupõe que, para todo esperto tem que existir um bobo. E foi como me senti naquele dia da várzea. Um bobo. É por isso que tenho raiva dessa história até hoje. O bom mesmo é ser o esperto!

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Por Alex Ribeiro

Há um prato servido
Na mesa do brasileiro
Há um prato com aspecto grotesco
Com sabor indesejável
E cheiro apodrecido
Que sou obrigado a comer.

Há um governo estabelecido
Ao povo brasileiro
Há um governo com ações obscuras
Em desserviço de sua gente
Matando as suas esperanças
Roubando meus direitos.

Há um copo com veneno na mesa
Há um governo sem governo no palácio
Há muita gente insatisfeita
Há muita gente enganada
Há um sorriso no lábio alheio
De quem serve a mesa e enche o copo
Um sorriso de mal feito.