Sonhos

Uma viagem onírica pelo universo de Kurosawa

Por Leivison Silva

Sonhos (120’), Japão/EUA (1990), é um filme dirigido pelo mestre do cinema japonês Akira Kurosawa (1910-1998), um dos diretores mais importantes da história do cinema mundial. Com um roteiro baseado em sonhos que o próprio Kurosawa teve em diferentes momentos de sua vida, Sonhos foi financiado por Steven Spielberg, George Lucas, Francis Ford Coppola e Martin Scorsese, admiradores do grande cineasta japonês.

O filme é composto por oito episódios oníricos independentes, mas que dialogam entre si. São eles: “Um Raio de Sol Através da Chuva”, um menino que desobedece a mãe e vai para a floresta, onde assiste, escondido, à cerimônia de casamento das raposas, mas é descoberto por elas e deve arcar com as consequências; “O Jardim dos Pessegueiros”, durante o Festival das Bonecas, os espíritos das árvores devastadas aparecem para um menino e culpam a família do garoto por ter cortado todos os pessegueiros do jardim; “A Nevasca”, um grupo de montanhistas é surpreendido por uma nevasca, sucumbindo um a um, até que o último sobrevivente é atraído por uma Yuki-onna – espírito da neve do folclore japonês; “O Túnel”, um comandante, retornando da Segunda Guerra Mundial, atravessa um túnel e se depara com os espíritos dos soldados de seu batalhão, mortos em combate; “Corvos”, um estudante de artes visuais passeia pelas pinturas de Vincent van Gogh (1853-1890), interpretado no filme pelo diretor Martin Scorsese; “Monte Fuji em Vermelho”, a erupção da mais famosa montanha japonesa causa a explosão de usinas nucleares e apenas cinco pessoas sobrevivem; “O Demônio que Chora”, um mundo pós-holocausto nuclear habitado por demônios de diferentes castas; e “A Aldeia dos Moinhos D’Água”, um turista visitando um vilarejo, onde encontra um velho habitante local que fala do respeito que o homem deve ter pela natureza, e onde também presencia um alegre e colorido cortejo fúnebre.

Kurosawa está presente em cada sonho, sendo representado no filme por uma espécie de alter ego. Nas duas primeiras histórias, vemos um Kurosawa criança, interpretado por Toshihiko Nakano no primeiro sonho e por Mitsunori Isaki no segundo. Do terceiro em diante, o Kurosawa adulto é interpretado por Akira Terao.

Com poucos diálogos e focando bastante no visual, Sonhos é repleto de referências e arquétipos da cultura japonesa. O que vemos na tela é um desfile de imagens belíssimas, apoiado numa fotografia de encher os olhos, além de figurinos, maquiagem e coreografias impecáveis, tudo isso ao som de uma envolvente trilha sonora.

Cada sonho, sendo que alguns deles mais parecem pesadelos, vem recheado de símbolos e todos eles, em maior ou menor grau, é perpassado por uma mesma temática: o cuidado e o respeito que o homem deveria ter com a natureza que o sustenta. Servir-se dela sem agredi-la, e usar sua inteligência não para destruir, mas sim para trazer mais beleza e bem estar ao mundo. Uma reflexão bastante pertinente para esse começo de século. Concorda, caro leitor?

Sonhos é uma obra-prima do cinema. Poética e contemplativa, que hipnotiza, encanta e leva à reflexão. Indispensável na coleção de qualquer amante da sétima arte.

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.

Autor: Leivison Silva

Ator da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto. Cantor lírico formado no Curso Básico de Canto Erudito da Escola de Música de Brasília, com realização de trabalhos no teatro, no cinema e na música. Iniciado na arte da palhaçaria – seu palhaço chama-se Josephyno.

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