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Foto: Tássio Lopes
Foto: Tássio Lopes

Ontem encerramos a nossa temporada de apresentações do espetáculo O PRAQUÊ DO MARIDO, e a sensação é como se houvéssemos jogado uma final de campeonato. Todo o trabalho dos últimos meses estava em sí­ntese nesses dois últimos finais de semana.

É impressionante o prazer que o palco me trás, de como me sinto à  vontade nele, e como o mundo parece congelar para que esse momento possa acontecer. É a troca de energias, de emoções entre nós atores e a plateia, fazendo com que o fogo do teatro esteja cada vez mais vivo, aquecendo a alma de ambos.

Desci do palco ontem à noite com a cabeça na próxima temporada, no próximo personagem, já louco pra voltar a pisar naquele lugar elevado, que se nos apresenta como um universo a parte. E se, em algum momento, houve dúvida sobre as renúncias que a vida no teatro pede, este momento se desfez no instante em que pisei no palco, em que as luzes incidiram sobre mim, e a trilha sonora suavizou para que o personagem tomasse meu corpo emprestado para viver a sua história.

Foram duas semanas catárticas, onde pude explodir em diversas emoções, de forma artí­stica, nesta vivacidade que não deixa o teatro morrer. Em breve, fará dois anos que entrei para esse mundo, e é impressionante as mudanças que acontecem em nós. A vida ganha cor, textura, perfume e melodia. O teatro é vida, e a minha vida se abraçou ao teatro, numa dança intensa.

Salve o palco, viva o teatro!

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aecinho

Por Antônio Roberto Gerin

Será que Dilma vai mesmo precisar tomar cicuta? Cicuta é um veneno fatal, utilizado na Grécia antiga, como forma de execução dos condenados à morte. A personalidade mais famosa a ter bebido cicuta foi Sócrates, o filósofo. Não estamos aqui, óbvio, para fazer comparações entre Dilma e Sócrates. Quero apenas discorrer um pouco sobre a situação da democracia ateniense daquela época, e fazer um paralelo com a democracia brasileira de hoje.

Sócrates foi condenado à morte por ameaçar a democracia ateniense. O que era ele? Um corrupto? Um conspirador? Um traidor? Não. Apenas um homem bem acima do seu tempo, cujo legado filosófico e humano percorreu os séculos e chegou até nós. Diante da condenação, Sócrates tinha a possibilidade de fugir de Atenas. Preferiu ficar e morrer “cicutado”. Com a seguinte justificativa. Foi condenado por um tribunal representativo (legal), e mesmo que a sentença esteja errada e seja absurda, tem-se que fazer cumprir a legalidade! Um suicida, já que podia fugir?

Ilustro um fato. General ateniense na sua juventude, após derrota em uma batalha, Sócrates bateu em retirada com os poucos soldados que lhe restaram vivos. Chegando a Atenas, foi julgado por não ter cumprido o costume, o de que os soldados vivos tinham que enterrar os soldados mortos. Deixá-los insepultos era crime. E Sócrates saiu-se com esta. Se ficássemos para enterrar nossos soldados, também morreríamos, e assim não haveria vivos para enterrar os mortos.

Nos próximos meses, o Senado, casa de mulheres e de homens notadamente probos, terá que julgar Dilma. E não poderá cometer erro.

Em sessão do dia 12 de maio de 2016, foi aberto o processo de impeachment, com o afastamento da presidenta. Até aí tudo bem. Que se busque a verdade. Que verdade? A verdade das pedaladas. Pois é. Um lado diz que é crime, e aí se incluem juristas renomados. O outro lado diz que não é, e aí também se incluem juristas renomados. E agora? Se há dúvida, pode haver crime? Caberá ao senado desatar o nó. E terá que fazê-lo com total precisão e justiça. Este é seu grande desafio, acabar com esta confusão atordoante do que é e do que não é. Se o senado provar que é, Dilma será destituída do cargo e o Brasil continuará sendo um país com democracia. Se provar que pedalar não é crime, ela retornará à presidência, e o Brasil continuará sendo um país com democracia.

Mas, e se o senado não chegar a verdade alguma, confirmando este imbróglio político-midiático-esquizofrênico que divide o país? Bem. Neste caso, retornaremos à Atenas de Sócrates. Dilma, que não quis fugir (renunciar), terá que beber a cicuta. E o Brasil destruirá o seu tempo de hoje, atirando esse pedaço da sua história no limbo. Ótimo que essa coisa toda fique no limbo. Assim ninguém ficará sabendo que Dilma tomou cicuta.

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cadê a ministra

Por Antônio Roberto Gerin

A composição do ministério do atual presidente da República, Michel Temer, tem levado muita gente, aqui dentro deste país, e até lá fora, a fazer a mítica pergunta: — Cadê a ministra? Onde buscar explicações para placar tão inusitado, em se tratando de tempos modernos: 23 a zero! Placar impensável numa civilização, diria, honestamente sã, querendo dizer, igualitária. E aí? Buscar explicações novas para a descabida composição do ministério do não eleito presidente Temer, ou recorrer às antigas? A meu ver, não existe explicação nova. A não ser uma. Culpa-se Dilma, mulher recém destronada, pelas atuais mazelas da nação. Portanto, xô mulheres! Cobras! Acendam a fogueira!

Mas, e o que aconteceu com as mulheres do PSDB, que lutaram para derrubar Dilma e o PT? Que fizeram vigílias, que rezaram debaixo das batinas dos padres, que beijaram os pés de barro dos seus maridos, e agora, preteridas, estão reclamando a justa participação no poder? E nós — gritam elas —, por que ficamos de fora? Acredito que também estejam buscando explicações para tamanha, mas previsível, goleada. Só que elas foram goleadas dentro da própria casa. Em seu próprio Maracanã.

Mas vamos às explicações para o 23 a 0. Minha mente também é de ocasião, e eu gosto de flertar com o imponderável das circunstâncias. Mas, não podemos falar da mulher sem falar da trajetória dos séculos, onde a dominação e o desprezo subjugam a genitália e só preservam o útero porque ele é um instrumento necessário.

Vamos às hipóteses.

Primeira hipótese para os 23 a zero. Machismo em sua origem milenar. Mulher não vai à guerra. E nós estamos em tempo de guerra! Portanto, às mulheres, originariamente fúteis e imprevisíveis, não cabe tamanha responsabilidade num momento tão sério por que passa o país. A eficiência e a circunspecção cabem ao homem. À mulher, a intriga e a incerteza.

Segunda hipótese. Na pressa para compor o gabinete da inteligência salvadora, não se vislumbrou nenhuma mulher competente para se somar aos neurônios masculinos, fartamente disponíveis nas hostes dos partidos de ocasião. Afinal, para convencer um neurônio feminino leva-se muito tempo. Melhor, então, ficarem elas em casa, cuidando dos herdeirinhos.

Terceira hipótese para o 23 a zero. A república dos machos do pinto murcho nasceu sob a égide de uma Marcela que sabe, via revista VEJA, colocar a mulher no seu devido lugar.

Quarta hipótese. Não tenho mais hipóteses! Esgotei-me, porque tal placar ultrapassa o impensável, contraria a história, desfigura a realidade, achincalha o bom senso. Recorro-me, portanto, a uma mulher que soube, como poucas, descrever a mulher em seu tempo. Cedamos a tribuna a Simone de Beauvoir!

Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que se manter vigilante durante toda a sua vida.

Mulheres, orai e vigiai! As florestas não dispensam os seus lobos.

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