Lamentações do Cárcere

Por Alex Ribeiro

Eu sou homem e o que me difere?
Dos bichos, dos monstros famintos?
Sou homem porque submeto
Outros bichos submeto
A natureza a meu bel prazer.

Mas por homens sou também
Submetido, humilhado
Então, em que diferimos
O bicho lá confinado no chiqueiro
E eu aqui, na rua 20, lote 16?

Ah, que desastre essa humanidade
Tão desumana, tão selvagem
Em sua covarde exploração
Quem é o presidente? Senão um homem
Como eu, como o Tadeu ali na esquina
Como qualquer outro
Mortal.

E eu aqui consumindo arte
Cultura, revista, sexo e protesto
Para quê? A quem pertence
Meu destino?
A Deus onipresente, onipotente?

Então por que é que Deus é
Tão calado. Diz-me
Quem cala consente, então,
Deus consente em tudo que aí está.

Ou então Deus está demasiado ocupado
Para lidar com insignificâncias
Humanas
Gosto mais desse Deus. Ausente.
Assim somos todos responsáveis
Pela mazela que criamos.

Assim sendo o silêncio de Deus
Nós homens não somos nada
Além de vis criaturas
Bichos selvagens e vaidosos
E nos matamos uns aos outros
Em nome da mediocridade.

Viva são Jair
E toda sua ignorância!
Viva a sociedade suja, linda e hostil
Viva, enquanto for possível
Antes que os bichos verdadeiros
Tomem sua carne apodrecida e perfumada.

Ah, pobre sou eu no cárcere
Ser homem e não ser bicho
Quando tudo em mim é bicho
Até mesmo minha mais nobre vontade
De não ser bicho.

Somos bicho homem
E matamos disfarçadamente
Assassinos
De nossa carne.

Autor: Alex Ribeiro

Ator da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto, psicólogo, poeta.

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