Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Alex Ribeiro

Provo um gole de vinho como se fosse um beijo teu
Saboreio tua doçura e me arde o peito em desejo
Beijo demoradamente o vinho tinto do teu batom
Sinto um formigar no corpo tomado por libido
E sinto o aroma do teu perfume, uma bebida fatal
Me entrego ao vinho e ele mancha meu colarinho com tua boca
Louca você me sobe e me envolve, me tira do chão
Me embebedo nessa paixão vermelha intensa
E só não quero acordar amanhã bem cedinho
Com ressaca da solidão que tu deixaste.

Publicado em Categorias Cinema, Cultura, Literatura, Resenhas

O herói das cem batalhas

Por Antônio Roberto Gerin

LIBERTADOR(119’), direção de Alberto Arvelo, Venezuela/Espanha (2014), traz, em grandes pinceladas, a vida de uma das mais emblemáticas figuras políticas da América do Sul. Para quem em pouco mais de vinte anos percorreu milhares de quilômetros no meio das selvas, combateu mais de cem batalhas e libertou meia dúzia de países, contar isso tudo num filme não dá, é muito pouco tempo de fita. Se a proposta do diretor foi mostrar a trajetória de lutas de Simón Bolívar (interpretado pelo excelente Edgar Ramírez) para libertar a américa espanhola do jugo espanhol, o espectador terá aí um bom apanhado geral. E, infelizmente, tantas lutas a sua frente, não haverá tempo para mostrar em detalhes, e em carne e osso, o homem Simón Bolívar. O herói, no caso, é o que importa.

Simón Bolívar foi um aristocrata venezuelano, com um nome quase tão extenso quanto o de D. Pedro II, imperador do Brasil. Simon estudou na Europa, pôde ver de longe sua América sendo espoliada pela metrópole chamada Espanha, do rei Carlos IV. E, lá na Europa mesmo, jurou para si e para os que com ele estavam naquele momento que não descansaria enquanto não libertasse a América do Sul do domínio espanhol. E assim foi, e assim ele fez. Era determinado, teimoso, astuto, visionário e idealista. E, no final, um libertador.

Talvez um dos grandes méritos do filme seja ter mostrado que a história é uma engrenagem e, como tal, ela dá voltas. Um dia é da caça, outro, do caçador. Todo o idealismo de Simon Bolívar e toda a certeza no sucesso de suas propostas políticas e econômicas para o futuro da América do Sul não foram suficientes para que esta mesma América tomasse outro rumo. A política, sabiamente, reproduz os mesmos mecanismos de controle de poder, enquanto, óbvio, estes mecanismos funcionarem a favor. E quando a história deu a volta completa, e isto durou mais ou menos vinte e cinco anos, a elite aristocrática dos países libertos descobriu que era preciso que “El Libertador” saísse desta vida e entrasse para a história. E deixasse agora ela, a elite, impor seu sábio modelo de dominação, copiado, evidente, da metrópole europeia. E Simón Bolívar entrou para a história de uma forma fulminante, gerando corruptelas ideológicas ao longo dos tempos, e uma delas, a mais conhecida, chama-se bolivarismo. Alguém sabe o que é isso? A crença de Simón Bolívar na democracia era tão forte quanto a de George Washington, o libertador da América do Norte. Então, por que a elite e a classe média brasileiras têm tanto horror ao bolivarismo? Ora, vão dizer, bolivarismo é ditadura populista! Se esta máxima ideológica for verdadeira, forçoso será admitir que os ideais de Simón Bolívar se perderam no meio do caminho.

Em suma. Sugerimos ao espectador primeiro assistir ao filme, com belas fotografias, roteiro consistente, interpretações magníficas, quando então verá que de fato a história gira em círculo, e nada muda, a não ser que quem estava do lado do poder, amanhã estará do outro lado, sem o poder, mas sonhando logo em voltar a ele, e assim a roda vai girando, senão eternamente, com certeza por uns bons bocados de séculos. Enquanto não houver mudança, tudo continuará como sempre foi. Até que apareça alguém que ache que vale a pena lutar mais cem batalhas.

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